O que sabemos sobre a sedução
Outro dia eu conversei com uma amiga minha durante horas. Ela ficou se queixando por estar solteira, e por ter passado o dia dos namorados sozinha.... Qualquer pessoa que entrasse naquela hora na sala, com certeza não iria entender nada! Como um mulherão daqueles, linda, bem-sucedida profissionalmente, divertida, inteligente poderia estar tão solitária, mesmo querendo encontrar um amor?? Eu apontei tudo isso pra ela, falei das suas qualidades, dos seus encantos... Mas nada disso foi suficiente! Ela estava chateada, e pra encerrar o assunto, disse uma coisa que ficou na minha cabeça: “Ah, eu não sou boa nesse jogo da sedução... É um jogo muito complicado, e eu sempre acabo perdendo! …”
Isso ficou martelando aqui dentro.... Será que a sedução é realmente um jogo? E se for, quem foi que escreveu as regras? E quais são elas? O que é que faz algumas pessoas serem muito boas nessa brincadeira e outras pessoas tão ruins? Será que é possível melhorar o nosso desempenho? Será que existe alguma ciência por trás disso?
Curiosa que eu sou, eu não poderia deixar essas questões em aberto! Então eu passei essa última semana numa busca de respostas, na literatura, na psicologia, na minha própria experiência. E o que eu encontrei foi maravilhoso!
sedução
substantivo feminino
1. conjunto de qualidades e características que despertam simpatia, desejo, amor, interesse etc.
2. capacidade ou processo de persuadir.
3. atração, encanto, fascínio; tentação
A palavra sedução é muitas vezes usada num sentido negativo, com um significado de uso de uma tentação para enganar ou corromper. Mas a verdade que a sedução não é nada mais que a atração, o despertar do interesse no outro. E isso é algo que fazemos diariamente, em várias situações. Como assim?? Se tirarmos a conotação sexual que essa palavra carrega, veremos que em diversos momentos precisamos atrair a atenção do nosso chefe ou do nosso cliente para um projeto no qual trabalhamos, ou persuadir nosso colega a concluir determinada atividade, ou mesmo convencer nossa mãe a fazer aquele bolo de que tanto gostamos. Ao pé da letra, todos esses são atos de sedução.
Ahhhh, então é isso? Nesse caso, somos todos sedutores, certo? Certíssimo. Todos usamos de ferramentas de sedução nas nossas vidas cotidianas (lembre-se que não estou falando aqui da parte sexual da coisa, mas sim do encanto, da persuasão, da atração).
Ok, todos temos potencial para a conquista. Mas como algumas pessoas fazem para ter tanto sucesso enquanto outras encontram dificuldade? Eu pesquisei alguns dos sedutores mais famosos da história. Tanto personagens fictícios quanto pessoas reais. Desde Don Juan, até Marilyn Monroe, passando pelo James Bond, e pela Xerazade das “Mil e uma noites”. E nessas aventuras todas, existem algumas características comuns, e um caminho a seguir.
A primeira notícia que eu queria dar a você é: a sedução não é um jogo!! Um jogo tem regras claras, acordadas entre os jogadores. Os jogadores são adversários. Alguém precisa perder para que o outro ganhe. Nenhuma dessas características se aplica à conquista. Trata-se muito mais de uma forma de arte do que de um jogo. A arte é a expressão do somos, ela é a materialização da nossa alma. A arte é uma forma de sedução, é uma forma de encanto, de encantar ao outro. E aqui não existem regras, não existe arte melhor ou pior, existe aquilo que você gosta e aquilo que você não gosta. Conhecemos diversas formas de arte (pintura, música, dança, literatura, cinema, entre outras): algumas nos fascinam, outras nem tanto. Da mesma forma, alguns tipos de arte são mais fáceis para nós e conseguimos realizar, outros são como planetas alienígenas – não entendemos, não somos capazes de performar. Na arte também não existem adversários. Tome a música como um exemplo: o pianista não compete com o violinista, assim como quem está cantando não compete com quem está ouvindo. Todos são parte de uma experiência maior: a produção e a apreciação da arte. Assim é também na sedução, existem jeitos de encantar que amamos, que usamos com facilidade, que não gostamos, que não entendemos....
Como a arte, a sedução é algo que podemos aperfeiçoar. Mesmo os músicos mais talentosos praticam o seu instrumento por horas a fio, para chegar à excelência, para conhecer as nuances dos sons, as notas mais belas, os respiros, a emoção.... Igualmente, se quisermos realmente nos expressar e encantar as pessoas que conhecemos, precisamos entender os nossos instrumentos de sedução e praticar a manifestação do melhor que temos dentro de nós.
Dicas para fazer isso? Ao longo da minha pesquisa, eu encontrei grandes ensinamentos na história de um sedutor: Giacomo Casanova, o lendário Casanova. Ao contrário do que poderíamos imaginar, esse personagem da história não é fruto da imaginação de alguém, ele existiu mesmo na Veneza do século XVIII. Casanova teve uma vida conturbada por escândalos com mulheres e o vício do jogo, foi preso um par de vezes, viajou por toda a Europa, conheceu os personagens relevantes da sua época, escreveu romances e suas memórias, fascinou seus contemporâneos e deixou seu legado como o mais famoso sedutor da história. Nos seus escritos e nos textos de historiadores sobre a sua vida, encontramos dicas valiosas para nos aprimorarmos na arte do encanto:
1- Sedução verdadeira leva tempo!
Hoje em dia com a velocidade das redes sociais, os relacionamentos acontecem com uma rapidez impressionante. Parece que temos pressa para tudo: queremos que o tempo decorrido entre encontrar alguém, conhecer esse alguém e saltar num namoro seja o menor possível. Por conta disso, muitas vezes embarcamos numa relação antes mesmo de experimentar as diversas fases do processo da conquista, o que pode nos levar a ficar com alguém que não tem muito a ver conosco e a não sermos tão felizes no amor quanto gostaríamos.
Você acha que, na época dele, o Casanova entrava em um bar e saía de lá namorando uma menina? Absolutamente não!! Por exemplo, ele escreveu nas suas “Memórias”, sobre Bettina Gozzi, a irmã do abade encarregado da sua educação e seu primeiro amor, que foi ela que “pouco a pouco, acendeu no seu coração as chispas de um sentimento que depois se tornou numa paixão dominante”. Ou seja, a conquista se deu pouco a pouco, e nesse caso ele foi o conquistado.
Assim, se você conheceu alguém e se sentiu atraído, tome o tempo necessário para descobrir os encantos dessa pessoa e para mostrar os seus. Não atropele as coisas, não pule etapas. Lembre-se da arte: nesse caso, pense num balé, na graciosidade e fluidez dos passos. É dessa forma que queremos ser, ok?!
2- Conheça (e ame!) o que você quer!
O universo do desejo muitas vezes nos prega peças – imaginamos que queremos alguma coisa, fantasiamos com algo, mas quando finalmente conquistamos o objeto da nossa paixão, percebemos que aquilo não tem muito a ver conosco. Ou você nunca viu algum filme no qual um menino se apaixona pela garota mais popular do colégio só para perceber (depois de tê-la conquistado) que na verdade tem muito mais a ver com aquela menina estudiosa, tímida, de óculos gigantes que foi sua amiga desde o primeiro minuto?
Não deixe isso acontecer com você: dê atenção para as coisas que são importantes para você, anote-as, dedique tempo para as suas paixões. Passe tempo com aquilo que você ama. Assim, se você procura um namorado que seja um esportista super saudável, certifique-se que o seu estilo de vida tem a ver com isso, que você ama acordar cedo e se exercitar e se alimentar de foma natural; caso contrário, você estará no caminho de conquistar algo que você não quer para a sua vida.
O que Casanova sempre amou foram as mulheres. Assediava nobres e plebeias, jovens e maduras, louras e morenas, bonitas e feias. Suas memórias confirmam sua paixão pelo sexo feminino: “Sentindo-me nascido para o sexo diferente do meu, sempre o amei e fiz-me amar tanto quanto me foi possível.”
3- Conheça (e explore!) os seus pontos fortes!
Muitas pessoas, no momento da conquista, tentam mostrar uma imagem “que agrade o outro”. Se fizermos isso estaremos “cancelando” o nosso diferencial, aquilo que nos separa do resto do mundo e nos torna únicos! Então, se você é divertido, use seu bom humor (claro, com cuidado para não fazer piadas ofensivas – o importante é usar o humor com inteligência e respeito); se você é louco por crianças, não tenha medo de contar para o outro, e assim por diante.
A autenticidade é sexy, e conhecer alguém único, especial e com histórias para contar é sempre interessante. Claro que você corre o risco de não agradar todo mundo, mas isso ótimo! Queremos agradar, atrair e conquistar só a pessoa certa para a nossa vida, aquela que tem tudo a ver conosco e que nos fará profundamente felizes! Respeite sua individualidade: só assim você irá encontrar a pessoa que se encaixará perfeitamente na sua vida.
Casanova atribuía seu sucesso amoroso à forma como tratava as mulheres: atenção, delicadeza e pequenos gestos eram seus truques para a conquista. O escritor Stefan Zweig, que escreveu um livro sobre o sedutor (“Casanova: a Study in Self Portraiture”), dizia ainda que sua honestidade era uma ferramenta de atração: “Não havia truques escondidos na conquista, seu segredo era precisamente a sinceridade do desejo. Não fazia promessas nem quebrava corações, não contraía dívidas de alma; suas relações eram sempre leais a seu modo, simplesmente de ordem sensual e sexual. Ele não provocava catástrofes e fez muitas mulheres felizes, que saíam intactas de uma aventura de volta para suas vidas cotidianas. Conquistava sem destruir, seduzia sem desmoralizar.”
4- Sedução é uma coisa personalizada!
Existem por aí algumas pessoas que prometem uma fórmula de sedução que funcione com qualquer mulher (ou qualquer homem!): tudo besteira. A conquista é uma dança personalizada, pois cada indivíduo é único e especial. Você é um ser singular, e tem seu conjunto próprio de características, desejos, pontos fortes (e fracos!). E a pessoa que você quer atrair também tem um conjunto particular de atributos. Portanto, dizer que existe uma fórmula única que sirva para tudo é totalmente irreal.
O que sim existe é um jeito melhor e mais efetivo de encantar: aquele que leva em conta as características de ambos os envolvidos. Por exemplo, imagine que você encontrasse o seu ator favorito agora e pudesse conversar um pouco com ele. O que você acha que seria mais memorável (e mais sedutor): começar a conversa elogiando o sorriso dele e fazendo algum comentário genérico sobre a sua atuação ou iniciar o papo falando sobre a participação dele em um filme específico, contando como aquele papel marcou a sua vida e quem sabe até citando uma cena que fez você se arrepiar? Acho que é evidente que o discurso mais personalizado é mais interessante, certo?
Isso acontece por vários motivos: quando destacamos uma particularidade sua, o interlocutor se sente visto e valorizado; isso também mostra a personalidade e o coração de quem está tentando cativar o outro e acaba por ressaltar similaridades, gostos e hábitos comuns aos dois, o que leva a mais conversa, mais troca de informação, mais relacionamento.
Casanova entendia isso, e todas as suas conquistas foram diferentes. Ele sempre fazia a sua amada se sentir especial e mostrava que aquele relacionamento era único e jamais se repetiria novamente.
5- Sedução é sobre satisfazer uma necessidade.
Existem muitas histórias das conquistas do Casanova. Uma delas conta que uma vez o sedutor conheceu uma atriz e se apaixonou perdidamente por ela. Ela era linda, mas tinha tinha olhos tristes. Quando Casanova perguntou a seus amigos o porquê daquele ar de melancolia, descobriu que a moça estava desanimada pois tinha um defeito na fala e não conseguia pronunciar palavras com a letra ‘R’. Isso estava acabando com a sua carreira. O que foi que ele fez então? Para seduzir a moça, Casanova se trancou no seu quarto e em três dias escreveu uma peça que não continha nenhuma palavra com a letra ‘R’. Aí então ele procurou a atriz e a presenteou com aquele texto. Claro que ela ficou encantada com aquilo e os dois tiveram um intenso caso de amor. O que esse relato nos diz sobre a arte da sedução?
Aqui está o verdadeiro segredo da conquista: todos nós temos necessidades ocultas, que não estão sendo satisfeitas. Descobrir e suprir essas carências desatendidas é o que faz com que uma pessoa se torne profundamente atraente para outra. Mas atenção: muitas vezes o que nós achamos que é a necessidade real do outro, na verdade não é. Normalmente o que mostramos ao mundo é algo mais superficial. Como assim? No exemplo do Casanova, ele poderia ter se oferecido para conseguir uma papel no teatro para ela, usando sua influência. Isso resolveria um problema da atriz (conseguir trabalho) mas nunca a faria ser verdadeiramente apreciada, pois se ela atuasse numa peça cheia de ‘R’s provavelmente seria ridicularizada e acabaria mais infeliz do que antes de conhecer o conquistador. Já o que Casanova fez deixa uma profunda (e maravilhosa!) mensagem: o texto sem ‘R’s não só dá a atriz um trabalho, mas também dá a ela a chance de ser normal, de não se sentir defeituosa. Dá a ela a chance de ser reverenciada pelo seu talento. A peça diz a ela que ele a enxerga e acredita que ela seja deslumbrante e que ele quer que o mundo também possa ver isso.
É muito dificil não se apaixonar por uma mensagem dessas, não acha? Assim, anote aí a minha última dica: descubra a necessidade que o outro tem e que não está conseguindo satisfazer. Fique atento para encontrar a carência essencial, não aquilo que está na superfície. Localize o problema e resolva-o. Assim, você não só estará no caminho de conquistar o seu amor, mas você também terá a certeza de ter feito alguém muito feliz!
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Artigo publicado originalmente no blog do Par Perfeito, em 19/07/2018.
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